Claustrofórmula
para Adriana Calcanhoto
ainda zonza, ainda tonta, hálito de dia seguinte
na janela
linhas horizontais cruzam linhas verticais
que no chão
o sol transforma em células de uma planilha
busco a fórmula
do outro lado do quarto, tão distante
visão de túnel
ainda tonta, ainda bamba
busco a porta
respiro fundo
ainda sinto teu cheiro
de couro e de cigarro
as cartelas espalhadas pelo chão mostram que não sei tomar um remédio até o fim
coleção de fracassos
busco a porta
e num passo torto
piso em falso
a cada passo
me desfaço em cacos
piso em mim
penduro um quadro
que cai
exponho uma planta
que morre
mais um passo
mais um vidro
coleciono frascos
nunca gostamos de cachaça
ironias da vida
o melaço agora
se mistura à mistura de cigarro e couro
hoje ainda
e ainda hoje me embriago de ti
do outro lado da janela de planilha
a maresia é de ouvir
e eu ouço nosso passado
que hoje são passos
do outro lado
me impedindo de fugir